Ensaios Clínicos Randomizados: 3 Fatores para Estudos Confiáveis

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Aprenda os 3 elementos essenciais que garantem a confiabilidade dos Ensaios Clínicos Randomizados e evite erros metodológicos em sua pesquisa.
Ensaios Clínicos Randomizados

Randomização ou Aleatorização
Randomização

Os Ensaios Clínicos Randomizados (ECRs) são considerados o padrão-ouro da pesquisa em saúde. Isso porque oferecem a melhor base científica disponível para avaliar se uma intervenção — como um medicamento, uma técnica cirúrgica ou um novo protocolo terapêutico — realmente funciona. Mas para que essa evidência seja confiável, é necessário seguir critérios rigorosos de metodologia. Neste post, você vai entender os três elementos essenciais que garantem a qualidade e a confiabilidade de um ECR.

1. Randomização em Ensaios Clínicos Randomizados: A Base da Imparcialidade

A randomização consiste em distribuir os participantes do estudo em grupos (geralmente, um grupo intervenção e um grupo controle) de forma imprevisível. Essa imprevisibilidade é o que impede que fatores externos, como idade, comorbidades ou gravidade da doença, influenciem os resultados.

Ao garantir que os grupos tenham características semelhantes no início do estudo, a aleatorização permite que as diferenças observadas no final possam ser atribuídas à intervenção testada — e não a variáveis de confusão. Métodos como uso de programas de computador ou tabelas de números aleatórios são os mais recomendados. Já métodos como alternância de dias ou ordem de chegada, por mais simples que pareçam, não são considerados válidos, pois permitem previsibilidade e podem introduzir viés.

2. Sigilo da Alocação em Ensaios Clínicos Randomizados: evitando viés de seleção

Além da aleatorização, é muito importante garantir o sigilo da alocação. Isso significa que a pessoa responsável por recrutar os participantes não deve saber, de forma alguma, para qual grupo o próximo indivíduo será alocado. Quando esse sigilo é violado, pode ocorrer viés de seleção, pois há risco de manipulação consciente ou inconsciente na inclusão dos participantes.

Esse viés pode comprometer seriamente os resultados. Estudos indicam que a ausência de sigilo adequado pode superestimar o efeito da intervenção em até 54% (Schulz et al., 1995). Métodos eficazes para preservar o sigilo incluem o uso de envelopes opacos, lacrados e numerados sequencialmente ou sistemas de randomização centralizados.

Infelizmente, muitos estudos falham na implementação adequada do sigilo da alocação, o que compromete a validade interna do ECR. Entre os erros mais comuns estão o uso de envelopes translúcidos, mal selados ou sem numeração sequencial, que permitem a previsão da alocação; o acesso direto do recrutador à lista de randomização; e métodos claramente previsíveis, como alternância simples, data de nascimento ou número do prontuário. Tais práticas violam o princípio da imprevisibilidade e favorecem o viés de seleção. Para garantir sigilo verdadeiro, é necessário utilizar métodos robustos, como envelopes opacos, lacrados e numerados sequencialmente, ou ainda sistemas de randomização centralizados e automatizados, que impedem qualquer manipulação ou antecipação da alocação.

3. Transparência Metodológica em Ensaios Clínicos Randomizados

Mesmo quando a metodologia é corretamente aplicada, ela precisa ser bem descrita. O relato claro e completo dos procedimentos utilizados — especialmente sobre como foi realizada a aleatorização e o sigilo — é essencial para que o estudo possa ser avaliado por outros pesquisadores, revisores e profissionais da saúde.

Diretrizes como o CONSORT (Consolidated Standards of Reporting Trials) ajudam a padronizar esse processo, orientando os autores sobre o que precisa ser incluído na descrição dos métodos. Um estudo mal descrito pode ser desconsiderado, mesmo que tenha sido bem conduzido.

Quer ver um exemplo prático? Leia o artigo completo sobre viés de seleção em ECRs

Para aprofundar seu entendimento sobre o controle de viés de seleção em ECRs, recomendamos a leitura do artigo “Detecting selection bias in randomized clinical trials: Ear, Nose and Throat Disorders Group (ENT) and oral health group”, disponível em:

Este estudo oferece uma análise detalhada sobre a importância do controle rigoroso na randomização e alocação, aspectos cruciais para a validade dos resultados em pesquisas clínicas.

Ferreira CA, Atallah AN, Loureiro CAS. Detecting the extent of control over selection bias relating to oral health and otorhinolaryngology: cross-sectional study. São Paulo Med J. 2020;138(3):184-189.

Schulz KF, Chalmers I, Hayes RJ, Altman DG. Empirical evidence of bias. Dimensions of methodological quality associated with estimates of treatment effects in controlled trials. JAMA. 1995;273(5):408-412.

Moher D, Hopewell S, Schulz KF, et al. CONSORT 2010 Explanation and Elaboration: updated guidelines for reporting parallel group randomised trials. BMJ. 2010;340:c869.

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