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  • O que é Viés e Como Ele Destrói a Validade dos Resultados

    Risco do Viés na ciência
    Viés

    Mesmo estudos bem planejados podem ser comprometidos por distorções sutis no método, na amostra ou na análise. Por isso, compreender o que é o viés e como ele atua é essencial para quem deseja produzir ou interpretar ciência de forma confiável.

    A ilusão de um resultado confiável

    Você já se perguntou por que dois estudos sobre o mesmo tema chegam a conclusões opostas?
    Por que um artigo afirma que determinado medicamento é eficaz, enquanto outro diz o contrário?
    Em muitos casos, a explicação não está nos dados em si, mas na forma como esses dados foram obtidos.

    Um estudo pode parecer tecnicamente impecável, mas esconder um inimigo silencioso: o viés.

    O viés — ou bias, em inglês — é uma tendência sistemática que distorce os resultados de uma pesquisa, afastando-os da realidade. (1)
    Ele pode surgir em qualquer etapa do processo científico, desde a seleção dos participantes até a análise estatística. (6)

    E o mais preocupante: quanto mais refinado o estudo parecer, maior o risco de que o viés passe despercebido.
    Neste texto, você vai entender como o viés destrói a validade de uma pesquisa, quais são os principais tipos e como identificá-lo e reduzi-lo — inclusive fora do ambiente acadêmico, onde a pseudo-ciência usa a aparência de credibilidade para enganar o público.

    Esse tema sempre me fascinou. Inclusive, desde 2011 escrevi um artigo específico sobre viés em pesquisas (9), mostrando como falhas no delineamento dos estudos podem comprometer conclusões clínicas e práticas odontológicas baseadas em evidências.
    A partir dessas reflexões, percebi que o problema do viés vai muito além de uma área específica — ele está presente em praticamente todas as etapas da produção científica e em diferentes campos da saúde.

    Risco do Viés
    Risco do Viés

    O que é viés — e por que ele é tão perigoso

    Em metodologia científica, o viés é um erro sistemático: uma distorção constante que leva os resultados a apontarem para uma direção específica. Isso o diferencia do erro aleatório, que acontece por acaso e tende a se equilibrar quando o tamanho da amostra aumenta.

    Para entender melhor, imagine um termômetro descalibrado que marca sempre 2 °C a mais do que a temperatura real.
    Você pode medir dezenas de vezes — o valor médio será preciso, mas consistentemente errado.
    É exatamente isso que o viés faz com os resultados de uma pesquisa.

    Em contrapartida, o erro aleatório é como uma variação natural das medições — ora para cima, ora para baixo — que tende a se compensar ao longo do tempo.

    Portanto, um estudo enviesado pode parecer muito preciso, mas estará precisamente errado.

    Erro ≠ Viés: entenda a diferença

    Embora ambos possam ser chamados de “erros”, eles têm naturezas diferentes e consequências distintas.

    • Erro aleatório: é imprevisível e ocorre por acaso. Ele aumenta a variabilidade, mas tende a se anular em grandes amostras. Por isso temos que calcular o tamanho da amostra. Quanto maior o tamanho da amostra, menor o risco de erro.
      Exemplo: medir a pressão arterial de uma pessoa várias vezes e obter resultados ligeiramente diferentes a cada medição. (7)
    • Viés (erro sistemático): é previsível e constante. Ocorre quando algo no delineamento do estudo faz com que os resultados se desloquem sempre para um lado.
      Exemplo: um aparelho de pressão descalibrado que marca sempre 5 mmHg acima do valor real, como já comentamos.

    Resumindo:

    • O erro aleatório afeta a precisão (quanto os resultados variam).
    • O viés afeta a exatidão (quanto os resultados se aproximam da verdade).

    Ou, de forma simples: todo viés é um erro, mas nem todo erro é um viés. Essa distinção é fundamental, pois erros aleatórios são inevitáveis, fazem parte da natureza da pesquisa.
    Já os vieses podem e devem ser prevenidos, pois ameaçam diretamente a validade dos resultados.

    Principais tipos de viés

    O viés pode assumir muitas formas, dependendo da etapa do estudo.
    A seguir, veja alguns dos mais importantes — e comuns — na pesquisa em saúde. (8)

    Viés de seleção

    Ocorre quando os participantes não representam adequadamente a população-alvo.
    Exemplo: um ensaio clínico sobre hipertensão que exclui idosos ou pacientes com comorbidades pode superestimar a eficácia do medicamento.

    Viés de aferição (ou mensuração)

    Surge quando há erro na forma de medir as variáveis.
    Exemplo: usar instrumentos diferentes para medir a pressão arterial em grupos distintos.

    Viés de confusão

    Acontece quando uma variável não controlada influencia tanto a exposição quanto o desfecho.
    Exemplo: associar consumo de café a doenças cardíacas sem ajustar para o tabagismo.

    Viés de atrição

    Surge quando há perda significativa de participantes durante o acompanhamento.
    Se os pacientes que abandonam o estudo são justamente os que não responderam ao tratamento, o efeito final parecerá melhor do que realmente é.

    Viés de publicação

    Pesquisas com resultados “positivos” têm mais chance de serem publicadas, distorcendo o corpo de evidências disponível.
    Dessa forma, meta-análises que consideram apenas estudos publicados tendem a superestimar os efeitos. Por isso é importante incluir a literatura cinzenta, caso você esteja fazendo uma revisão sistemática.

    Ferramentas da Cochrane para avaliar o risco de viés

    A Cochrane, referência mundial em revisões sistemáticas, desenvolveu ferramentas padronizadas para avaliar o risco de viés em diferentes contextos da pesquisa científica.
    Antes de aplicá-las, porém, é fundamental entender quem usa cada uma e em que momento do processo elas são mais úteis.

    Para quem está realizando um ensaio clínico

    O pesquisador que está conduzindo o experimento — planejando, randomizando e coletando dados — precisa conhecer o viés para preveni-lo.
    Nessa fase, as ferramentas da Cochrane funcionam como um roteiro de qualidade metodológica, ajudando a desenhar um estudo robusto desde o início.

    Por exemplo, definir claramente como será feita a randomização, garantir cegamento duplo e padronizar medidas de desfecho são práticas que previnem os principais vieses avaliados pela Cochrane.


    Para quem está lendo um artigo científico

    O leitor crítico — seja estudante, clínico ou pesquisador — usa o conhecimento sobre viés para interpretar o quanto pode confiar nos resultados de um estudo.
    Saber identificar vieses ajuda a responder perguntas como:

    • Os grupos eram comparáveis?
    • Houve cegamento dos avaliadores?
    • As perdas de seguimento foram equilibradas?

    Em síntese, essas reflexões são essenciais para quem pratica saúde baseada em evidências, pois permitem distinguir entre um resultado confiável e um resultado duvidoso.


    Para quem está fazendo uma revisão sistemática

    Tipo de viés: risco alto, médio ou baixo
    Tipo de viés: risco alto, médio ou baixo

    Nesse caso, o pesquisador precisa de um método padronizado e transparente para avaliar a qualidade dos estudos incluídos.
    É aqui que entram as ferramentas específicas da Cochrane: a RoB 2 e a ROBINS-I.

    RoB 2 (Risk of Bias 2)

    A RoB 2 é usada para ensaios clínicos randomizados.
    Ela avalia o risco de viés em cinco domínios: seleção, performance, detecção, atrito e relato.
    O julgamento final pode ser de baixo risco, alto risco ou algumas preocupações, permitindo ao pesquisador ponderar o peso de cada estudo na síntese final da revisão sistemática. (3)

    ROBINS-I (Risk of Bias in Non-randomized Studies — of Interventions)

    A ROBINS-I avalia o risco de viés em estudos não randomizados, como coortes e caso-controle. (2)
    Ela considera fontes de confusão e o contexto das intervenções, adaptando seus domínios conforme o tipo de estudo.
    Assim, torna-se essencial quando a revisão inclui estudos observacionais, pois permite comparar o grau de confiabilidade entre diferentes desenhos de pesquisa.

    Essas ferramentas, amplamente utilizadas pela Cochrane e pela Rede Brasileira de Avaliação de Tecnologias em Saúde (REBRATS), reforçam a importância de uma avaliação crítica e transparente — tanto para quem lê, quanto para quem realiza ou sintetiza estudos. (4)

    Viés também está nas redes: quando a pseudo-ciência veste jaleco

    Pseudo ciência?
    Pseudo ciência?

    Nos dias de hoje, o viés não está apenas nos estudos científicos, mas também na forma como a ciência é comunicada e explorada comercialmente. (8)
    Todos os dias, surgem vídeos e anúncios que prometem curas milagrosas, suplementos “com base em estudos científicos” ou terapias “comprovadas por Harvard” — e quase sempre, nada disso é verdade.

    Esses conteúdos usam uma tática perigosa: apropriam-se da linguagem científica para gerar credibilidade.
    Apresentam “pesquisas” sem contexto, citam artigos fora do escopo ou mencionam revistas respeitáveis de forma superficial — tudo para convencer o público a comprar um produto ou acreditar em uma solução simplista.

    Quando alguém verifica as referências apresentadas, descobre que as citações não têm relação direta com o que está sendo vendido.
    São textos sobre outros temas, estudos com metodologia fraca ou pesquisas preliminares em animais usadas para sustentar promessas em humanos.

    Esse é um tipo moderno de viés de comunicação científica, que mistura meias-verdades com jargões técnicos para criar uma ilusão de evidência.
    E ele é tão perigoso quanto o viés metodológico — porque mina a confiança na ciência real e desinforma tanto profissionais quanto pacientes.

    O papel dos profissionais de saúde

    Credibilidade científica
    Credibilidade científica

    Como educadores e multiplicadores de conhecimento, os profissionais de saúde têm a missão de traduzir ciência de forma responsável. Ensinar pacientes e colegas a reconhecer sinais de má ciência é tão importante quanto aplicar boas práticas clínicas. (6,7)

    Afinal, a verdadeira ciência não precisa de suspense, mistério ou marketing.
    Ela se sustenta pela coerência dos dados, pela reprodutibilidade e pela transparência.


    A honestidade metodológica é a base da boa ciência

    Todo pesquisador comete erros, mas o verdadeiro cientista é aquele que reconhece suas fontes de viés e trabalha para minimizá-las. Mais do que dominar estatísticas, fazer ciência baseada em evidências é um exercício de honestidade intelectual, rigor metodológico e responsabilidade ética.

    O viés não é apenas uma falha técnica: é uma ameaça à confiança pública na ciência.
    E quando ele aparece disfarçado de “conteúdo científico” nas redes, torna-se ainda mais perigoso.
    Por isso, combater esse fenômeno é um ato de responsabilidade social e profissional.

    A integridade científica começa com o olhar crítico — e se estende à forma como comunicamos e aplicamos o conhecimento.
    Porque a ciência verdadeira não precisa de truques: ela precisa de transparência, método e compromisso com a verdade.

    Referências Bibliográficas

    1. Higgins JPT, Thomas J, Chandler J, et al. Cochrane Handbook for Systematic Reviews of Interventions, Version 6.3 (updated Feb 2022). Cochrane, 2022.
    2. Sterne JAC, Higgins JPT, Reeves BC, et al. ROBINS-I: a tool for assessing risk of bias in non-randomised studies of interventions. BMJ. 2016;355:i4919.
    3. Cochrane Collaboration. Risk of Bias Tools (RoB 2 and ROBINS-I). Disponível em: https://www.riskofbias.info.
    4. Rede Brasileira de Avaliação de Tecnologias em Saúde (REBRATS). Guia Metodológico de Avaliação de Tecnologias em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2023.
    5. Schulz KF, Altman DG, Moher D, CONSORT Group. CONSORT 2010 Statement. BMJ. 2010;340:c332.
    6. Guyatt GH, Rennie D, Meade MO, Cook DJ. Users’ Guides to the Medical Literature. 3rd ed. McGraw-Hill; 2015.
    7. Greenhalgh T. How to Read a Paper. 6th ed. Wiley-Blackwell; 2019.
    8. Ioannidis JPA. Why Most Published Research Findings Are False. PLoS Med. 2005;2(8):e124.
    9. Ferreira CA, Loureiro CAS, Saconato H, Atallah AN. Assessing the risk of bias in randomized controlled trials in the field of dentistry indexed in the LILACS database. São Paulo Med J. 2011;129(2):85–93.
  • Pergunta de pesquisa científica: 05 aspectos essenciais para sua formulação

    Pergunta de pesquisa científica
    Pergunta de pesquisa científica

    Quando a pergunta de pesquisa científica é bem elaborada, todas as outras partes do trabalho se tornam mais claras: objetivos, metodologia, coleta de dados e análise. A pergunta de pesquisa científica é mais do que uma formalidade: é a espinha dorsal do pensamento científico. Em um cenário acadêmico cada vez mais exigente, saber formulá-la é um diferencial tanto para o desenvolvimento do trabalho quanto para a publicação de seus resultados. Se você está começando sua jornada como pesquisador ou orientando, comece pela pergunta certa. Ela define o sucesso do seu estudo desde o início.

    Ao longo da minha trajetória como orientadora de trabalhos acadêmicos, tive a oportunidade de acompanhar centenas de alunos na construção de monografias, trabalhos de conclusão de curso, dissertações de mestrado, doutorado e revisões de manuscritos. Em todos esses contextos, uma dificuldade se repete com frequência notável: a formulação da pergunta de pesquisa científica.

    Essa etapa, essencial para qualquer projeto científico, é muitas vezes subestimada ou mal compreendida. Já abordamos a estratégia PICO em um post anterior (Saúde Bucal: 10 Estratégias com PICO para Pesquisas Científicas de Sucesso”), mas mesmo assim, percebo que muitos alunos ainda não compreendem a verdadeira importância de saber formular uma boa pergunta. E é exatamente por isso que decidi escrever este texto.

    1. O que é uma pergunta de pesquisa científica?

    A pergunta de pesquisa científica é o ponto de partida de qualquer investigação. Ela deve conter, no mínimo, uma variável independente, um desfecho (ou variável dependente) e uma relação de causalidade ou associação entre esses elementos. A partir dessa estrutura básica, conseguimos orientar o restante do projeto com maior segurança metodológica.

    Por exemplo, o tema “vantagens do flúor” é vago demais. Mas podemos transformá-lo em uma pergunta mais adequada como:

    “O uso de flúor em cremes dentais reduz a incidência de cárie dentária em crianças entre 6 e 12 anos?”

    Aqui temos uma variável independente (uso de flúor), um desfecho (incidência de cárie) e uma população definida (crianças entre 6 e 12 anos).

    2. A importância da originalidade na pergunta de pesquisa científica

    A pergunta deve ser viável, mensurável e original. Por isso, é fundamental revisar a literatura para garantir que ela ainda não foi respondida por revisões sistemáticas. Se já houver uma resposta conclusiva, o mais indicado é reformular o foco da investigação.

    Essa orientação me remete constantemente às aulas do Prof. Dr. Álvaro Atallah, durante o doutorado na UNIFESP, nas quais ele reforçava enfaticamente que toda pergunta deve ser construída como se fosse ser respondida pelo melhor delineamento possível, mesmo que, na prática, o estudo seja observacional ou uma revisão. E ainda que a revisão da literatura não seja sistemática no sentido técnico, ela precisa ser estruturada, transparente e fundamentada.

    3. Por que a pergunta de pesquisa científica precisa ser bem formulada?

    Quando a pergunta de pesquisa científica é bem elaborada, todas as outras partes do trabalho se tornam mais claras: objetivos, metodologia, coleta de dados e análise. Costumo dizer aos meus alunos que a primeira coisa que analiso em um trabalho é se a conclusão está diretamente relacionada à pergunta inicial — e se ela foi de fato respondida.

    4. Exemplos de perguntas mal formuladas (e como melhorar)

    Pergunta Mal FormuladaProblemaDicaPergunta Reformulada
    Como prevenir doenças?Muito ampla e vagaDelimitar doença, intervenção e populaçãoA atividade física regular reduz a incidência de hipertensão em adultos?
    O cigarro faz mal para a saúde?Linguagem subjetiva e generalistaUsar desfecho clínico objetivoO tabagismo está associado ao aumento do risco de IAM em adultos?
    Quais os benefícios da alimentação saudável?Termo vago, sem focoEspecificar tipo de dieta, desfecho e populaçãoDieta mediterrânea reduz o risco de doença cardiovascular em idosos?
    Como tratar câncer?Muito genéricaEspecificar tipo de câncer e tratamentoQuimioterapia adjuvante aumenta sobrevida em mulheres com câncer de mama HER2+?
    A vacina tríplice viral é eficaz em crianças?Ausência de desfecho claroSubstituir “eficaz” por desfecho específicoA vacina tríplice viral reduz a incidência de sarampo em menores de 5 anos?
    Gestantes podem praticar atividade física com segurança?Linguagem subjetiva e genéricaIndicar tipo de atividade, desfecho e comparaçãoExercícios aeróbicos supervisionados reduzem risco de pré-eclâmpsia em gestantes?
    Implantes dentários são indicados para todos os pacientes com perda dentária?Linguagem generalista e sem desfechoDelimitar indicação, intervenção e desfecho funcionalImplantes osseointegrados melhoram função mastigatória em adultos com perda unitária posterior?
    O uso de aparelho ortodôntico melhora a estética dental em adolescentes?Desfecho subjetivoSubstituir estética por parâmetro clínico mensurávelAparelho fixo melhora o alinhamento dentário e oclusão em adolescentes?

    5. Conclusão: a pergunta de pesquisa científica como eixo central

    A pergunta de pesquisa científica é mais do que uma formalidade: é a espinha dorsal do pensamento científico. Em um cenário acadêmico cada vez mais exigente, saber formulá-la é um diferencial tanto para o desenvolvimento do trabalho quanto para a publicação de seus resultados.

    Se você está começando sua jornada como pesquisador ou orientando, comece pela pergunta certa. Ela define o sucesso do seu estudo desde o início.

    6. Referências Bibliográficas

    1. Hulley, S. B., Cummings, S. R., Browner, W. S., Grady, D., & Newman, T. B.
      Delineando a pesquisa clínica: uma abordagem epidemiológica. 4ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2015.

    2. Bettany-Saltikov, J.
      How to do a systematic literature review in nursing: a step-by-step guide. 2ª ed. New York: Open University Press, 2016.

    3. Richardson, W. S., Wilson, M. C., Nishikawa, J., & Hayward, R. S.
      The well-built clinical question: a key to evidence-based decisions. ACP Journal Club, 1995;123(3):A12–A13.

    4. Atallah, Álvaro N.
      Medicina baseada em evidências: ferramentas, conceitos e aplicações. São Paulo: Manole, 2001.
    5. Evidence-Based Medicine Working Group.
      Evidence-based medicine: a new approach to teaching the practice of medicine. JAMA, 1992;268(17):2420–2425.

  • Ensaios Clínicos Randomizados: 3 Fatores para Estudos Confiáveis

    /ensaios-clínicos-randomizados-confiabilidade

    Aprenda os 3 elementos essenciais que garantem a confiabilidade dos Ensaios Clínicos Randomizados e evite erros metodológicos em sua pesquisa.
    Ensaios Clínicos Randomizados

    Randomização ou Aleatorização
    Randomização

    Os Ensaios Clínicos Randomizados (ECRs) são considerados o padrão-ouro da pesquisa em saúde. Isso porque oferecem a melhor base científica disponível para avaliar se uma intervenção — como um medicamento, uma técnica cirúrgica ou um novo protocolo terapêutico — realmente funciona. Mas para que essa evidência seja confiável, é necessário seguir critérios rigorosos de metodologia. Neste post, você vai entender os três elementos essenciais que garantem a qualidade e a confiabilidade de um ECR.

    1. Randomização em Ensaios Clínicos Randomizados: A Base da Imparcialidade

    A randomização consiste em distribuir os participantes do estudo em grupos (geralmente, um grupo intervenção e um grupo controle) de forma imprevisível. Essa imprevisibilidade é o que impede que fatores externos, como idade, comorbidades ou gravidade da doença, influenciem os resultados.

    Ao garantir que os grupos tenham características semelhantes no início do estudo, a aleatorização permite que as diferenças observadas no final possam ser atribuídas à intervenção testada — e não a variáveis de confusão. Métodos como uso de programas de computador ou tabelas de números aleatórios são os mais recomendados. Já métodos como alternância de dias ou ordem de chegada, por mais simples que pareçam, não são considerados válidos, pois permitem previsibilidade e podem introduzir viés.

    2. Sigilo da Alocação em Ensaios Clínicos Randomizados: evitando viés de seleção

    Além da aleatorização, é muito importante garantir o sigilo da alocação. Isso significa que a pessoa responsável por recrutar os participantes não deve saber, de forma alguma, para qual grupo o próximo indivíduo será alocado. Quando esse sigilo é violado, pode ocorrer viés de seleção, pois há risco de manipulação consciente ou inconsciente na inclusão dos participantes.

    Esse viés pode comprometer seriamente os resultados. Estudos indicam que a ausência de sigilo adequado pode superestimar o efeito da intervenção em até 54% (Schulz et al., 1995). Métodos eficazes para preservar o sigilo incluem o uso de envelopes opacos, lacrados e numerados sequencialmente ou sistemas de randomização centralizados.

    Infelizmente, muitos estudos falham na implementação adequada do sigilo da alocação, o que compromete a validade interna do ECR. Entre os erros mais comuns estão o uso de envelopes translúcidos, mal selados ou sem numeração sequencial, que permitem a previsão da alocação; o acesso direto do recrutador à lista de randomização; e métodos claramente previsíveis, como alternância simples, data de nascimento ou número do prontuário. Tais práticas violam o princípio da imprevisibilidade e favorecem o viés de seleção. Para garantir sigilo verdadeiro, é necessário utilizar métodos robustos, como envelopes opacos, lacrados e numerados sequencialmente, ou ainda sistemas de randomização centralizados e automatizados, que impedem qualquer manipulação ou antecipação da alocação.

    3. Transparência Metodológica em Ensaios Clínicos Randomizados

    Mesmo quando a metodologia é corretamente aplicada, ela precisa ser bem descrita. O relato claro e completo dos procedimentos utilizados — especialmente sobre como foi realizada a aleatorização e o sigilo — é essencial para que o estudo possa ser avaliado por outros pesquisadores, revisores e profissionais da saúde.

    Diretrizes como o CONSORT (Consolidated Standards of Reporting Trials) ajudam a padronizar esse processo, orientando os autores sobre o que precisa ser incluído na descrição dos métodos. Um estudo mal descrito pode ser desconsiderado, mesmo que tenha sido bem conduzido.

    Quer ver um exemplo prático? Leia o artigo completo sobre viés de seleção em ECRs

    Para aprofundar seu entendimento sobre o controle de viés de seleção em ECRs, recomendamos a leitura do artigo “Detecting selection bias in randomized clinical trials: Ear, Nose and Throat Disorders Group (ENT) and oral health group”, disponível em:

    Este estudo oferece uma análise detalhada sobre a importância do controle rigoroso na randomização e alocação, aspectos cruciais para a validade dos resultados em pesquisas clínicas.

    Ferreira CA, Atallah AN, Loureiro CAS. Detecting the extent of control over selection bias relating to oral health and otorhinolaryngology: cross-sectional study. São Paulo Med J. 2020;138(3):184-189.

    Schulz KF, Chalmers I, Hayes RJ, Altman DG. Empirical evidence of bias. Dimensions of methodological quality associated with estimates of treatment effects in controlled trials. JAMA. 1995;273(5):408-412.

    Moher D, Hopewell S, Schulz KF, et al. CONSORT 2010 Explanation and Elaboration: updated guidelines for reporting parallel group randomised trials. BMJ. 2010;340:c869.

  • Saúde Bucal: 10 Estratégias com PICO para Pesquisas Científicas de Sucesso

    Pico da montanha
    Pico da montanha

    Antes de começar nossa jornada científica de hoje, quero te convidar a imaginar algo… Você está no pé de uma grande montanha. Ela é alta, desafiadora, mas lá no topo está o que você mais procura: a resposta certa para um problema de saúde bucal. O caminho até lá? Você precisa de um guia. Um mapa. E é aí que entra o nosso tema de hoje: a estratégia PICO..

    O que é a Estratégia PICO?

    A estratégia PICO é uma metodologia utilizada para construir perguntas de pesquisa bem estruturadas, especialmente na área da saúde bucal. A sigla PICO representa:

    • P (Paciente, população ou problema): Quem é o paciente ou qual é o problema de interesse?
    • I (Intervenção ou exposição): Qual é a intervenção (ou exposição) que está sendo investigada?
    • C (Comparação): Há uma alternativa ou tratamento comparativo?
    • O (Outcome, ou desfecho): Qual é o resultado esperado da intervenção?

    Por que usar a estratégia PICO na Saúde Bucal?

    Na área da saúde bucal, o uso do modelo PICO é extremamente valioso, pois permite que dentistas, pesquisadores, estudantes e gestores formulem perguntas que realmente conduzem à prática baseada em evidência. As vantagens incluem:

    • Melhor definição do escopo da pesquisa.
    • Otimização da busca em bases de dados como PubMed e Cochrane Library
    • Direcionamento claro de revisões sistemáticas.
    • Suporte à tomada de decisão clínica.

    Aplicações práticas da estratégia PICO na saúde bucal

    A utilização do modelo PICO é de extrema importância na saúde bucal, pois contribui para a prática baseada em evidências por profissionais e estudantes. Essa estratégia é essencial para conduzir estudos e pesquisas relevantes e bem estruturadas nesse campo específico.

    Exemplo 1: Cárie dentária em crianças

    .

    • P: Crianças em idade escolar com risco de cárie
    • I: Uso de flúor em gel
    • C: Escovação com creme dental fluoretado
    • O: Redução na incidência de cáries

    Pergunta PICO: Em crianças em idade escolar com risco de cárie, o uso de flúor em gel é mais eficaz do que a escovação com creme dental fluoretado na redução da incidência de cáries?

    Exemplo 2: Tratamento periodontal em saúde bucal

    • P: Adultos com gengivite
    • I: Raspagem e alisamento radicular
    • C: Orientação de higiene bucal isolada
    • O: Redução do índice de placa e sangramento gengival

    Pergunta PICO: Em adultos com gengivite, o tratamento com raspagem e alisamento radicular é mais eficaz do que apenas a orientação de higiene bucal na redução do índice de placa e sangramento gengival?

    Exemplo 3: Lesões bucais em saúde bucal

    • P: Pacientes com aftas recorrentes
    • I: Bochechos com corticoide tópico
    • C: Bochechos com solução salina
    • O: Redução da dor e tempo de cicatrização

    Pergunta PICO: Em pacientes com aftas recorrentes, os bochechos com corticoide tópico são mais eficazes do que os bochechos com água salgada na redução da dor e no tempo de cicatrização?

    Exemplo 4: Acesso a serviços de saúde bucal

    • P: População adulta de baixa renda
    • I: Programas de saúde bucal da atenção primária
    • C: Ausência de programas regulares
    • O: Aumento no número de consultas odontológicas preventivas

    Pergunta PICO: Em adultos de baixa renda, a presença de programas de saúde bucal na atenção primária aumenta o número de consultas odontológicas preventivas em comparação à ausência desses programas?

    Dicas para formular boas perguntas de pesquisa com PICO em saúde bucal

    1. Seja específico: delimite claramente o grupo populacional e a intervenção.
    2. Evite termos genéricos: como “melhor”, “pior”, “eficiente” sem contextualização.
    3. Use a literatura existente: como exemplificado nas seções anteriores.
    4. Contextualize na prática clínica de saúde bucal: casos reais inspiram boas perguntas.

    Odontologia Baseada em Evidências: 8 reflexões para Atualizar sua PráticaVariações do PICO e saúde bucal

    • PICOT: inclui o Tempo como variável — útil em prognóstico ou intervenções de longo prazo.
    • PEO: ideal para estudos qualitativos — População, Exposição, Resultado.

    Considerações Finais sobre saúde bucal e PICO

    A estratégia PICO é mais do que uma técnica: é um modelo de pensamento científico. Na saúde bucal, seu uso tem impacto direto na qualidade das perguntas formuladas e, consequentemente, na efetividade das pesquisas e das decisões clínicas.

    Ao estruturar perguntas com base no PICO, o pesquisador se aproxima de uma prática baseada em evidências reais, relevantes e aplicáveis. Seja na odontologia clínica, na estomatologia, na ortodontia ou na saúde pública, essa ferramenta é um guia para subir — com segurança — o pico da boa pesquisa!

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    Aprenda 10 estratégias com a metodologia PICO para criar perguntas científicas de qualidade em saúde bucal. Veja exemplos práticos e aplique em sua pesquisa!

    Referências Bibliográficas

    • Huang X, Lin J, Demner-Fushman D. Evaluation of PICO as a knowledge representation for clinical questions. AMIA Annual Symposium Proceedings. 2006.
    • Stillwell SB, Fineout-Overholt E, Melnyk BM, Williamson KM. Asking the clinical question: A key step in evidence-based practice. Am J Nurs. 2010;110(3):58–61.
    • Straus SE, Glasziou P, Richardson WS, Haynes RB. Evidence-Based Medicine: How to Practice and Teach It. 5th ed. Elsevier; 2018.
    • Cochrane Handbook for Systematic Reviews of Interventions. Version 6.4, 2023.

    Quer mais dicas sobre pesquisa, saúde bucal e prática baseada em evidência? Acesse nossa página de conteúdos internos ou conheça mais no nosso guia completo de saúde bucal preventiva!

  • Qual é a Melhor Evidência para Saber se um Tratamento Funciona?

    Ensaio clínico randomizado
    Ensaio clínico randomizado

    No mundo da saúde, saber se um tratamento realmente funciona é essencial. Afinal, decisões baseadas em achismos podem colocar vidas em risco. Mas qual é a melhor evidência científica para comprovar que um medicamento ou terapia é eficaz?

    Para responder a essa pergunta com segurança, é preciso entender os diferentes tipos de estudos usados na ciência da saúde e, principalmente, identificar qual deles oferece a melhor evidência disponível. Neste artigo, você vai descobrir como isso funciona e por que os ensaios clínicos randomizados lideram essa hierarquia.


    O Que É Evidência Científica em Saúde?

    Evidência, em ciência, significa prova. Ou seja, dados confiáveis obtidos por meio de estudos bem conduzidos, que demonstram que uma intervenção realmente faz o que promete. Mas nem toda evidência tem o mesmo valor. Dependendo do tipo de estudo, a força da evidência pode ser fraca, moderada ou muito forte.


    Ensaio Clínico Randomizado: A Melhor Evidência

    O ensaio clínico randomizado (ECR) é considerado o padrão-ouro da evidência científica. Isso porque ele permite verificar, com segurança, se um tratamento realmente funciona.

    Nesse tipo de estudo:

    • Os participantes são divididos aleatoriamente em dois grupos (intervenção e controle).
    • Um grupo recebe o tratamento testado, o outro recebe placebo ou tratamento padrão.
    • Em muitos casos, nem os pesquisadores nem os participantes sabem quem está em qual grupo (duplo-cego).

    Esse modelo é o que mais reduz riscos de viés e confusão, gerando evidência sólida de causa e efeito.


    Por Que Confiar em Ensaios Clínicos?

    Entre todos os tipos de estudo, o ECR oferece a evidência mais confiável por motivos como:

    • Randomização, que equilibra as características dos grupos.
    • Cegamento, que evita influências subjetivas.
    • Controle rigoroso, que garante que a única diferença entre os grupos seja o tratamento.

    Por isso, as melhores evidências em saúde pública, medicamentos e terapias vêm, geralmente, de ensaios clínicos bem feitos.


    E Quando Não Dá Para Fazer um ECR?

    Mesmo sendo o melhor tipo de estudo em termos de evidência, o ECR nem sempre é viável. Em alguns casos, por questões éticas, financeiras ou logísticas, os pesquisadores precisam usar outros delineamentos, que fornecem evidências menos robustas, mas ainda úteis.


    Tipos de Estudo e Nível de Evidência

    Conheça agora os principais tipos de estudo e o nível de evidência associado a cada um:

    Nível de EvidênciaTipo de Estudo
    🔝 Muito forteRevisão sistemática e meta-análise de ECRs
    🥇 ForteEnsaio clínico randomizado (ECR)
    🟨 ModeradoEstudo de coorte
    ⚠️ FracoEstudo caso-controle
    ❌ Muito fracoSérie de casos / Relato de caso / Opinião expert

    Evidência na Prática Clínica

    Na prática clínica, é comum vermos profissionais se baseando em sua experiência pessoal ou na opinião de colegas. No entanto, a medicina baseada em evidências (MBE) propõe algo mais robusto: decisões clínicas guiadas pela melhor evidência científica disponível, associada à experiência do profissional e às preferências do paciente.

    Ou seja, a evidência científica é o alicerce para oferecer tratamentos mais eficazes, seguros e com melhores resultados.


    Onde Encontrar Boas Evidências?

    Quer começar a se aprofundar no mundo da evidência científica? Aqui vão algumas fontes confiáveis:

    Essas plataformas oferecem acesso a estudos de alta qualidade, incluindo ECR’s e revisões sistemáticas — as melhores formas de produzir evidência confiável.


    Conclusão: Quer Saber Se Funciona? Siga a Evidência!

    Se você está em dúvida sobre a eficácia de uma terapia, técnica, produto ou medicamento, confie na evidência. E, dentro do universo científico, as melhores evidências surgem dos ensaios clínicos randomizados e das revisões sistemáticas que os compilam.

    A ciência tem muito a oferecer — desde que saibamos onde buscar e como interpretar. Ao compreender os níveis de evidência, você se capacita para tomar decisões mais seguras, eficazes e éticas.


    Referências bibliográficas (ABNT ou padrão acadêmico)

    1. Guyatt, G.; Rennie, D.; Meade, M. O.; Cook, D. J.
      Users’ Guides to the Medical Literature: A Manual for Evidence-Based Clinical Practice. 3. ed. New York: McGraw-Hill Education, 2015. Livro clássico sobre medicina baseada em evidências, com explicações detalhadas sobre ECRs e hierarquia de evidência.
    2. Hulley, S. B.; Cummings, S. R.; Browner, W. S.; Grady, D.; Newman, T. B.
      Delineando a Pesquisa Clínica: uma abordagem epidemiológica. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015. Guia completo sobre os tipos de estudo e seus níveis de confiabilidade.
    3. Sackett, D. L.; Rosenberg, W. M. C.; Gray, J. A. M.; Haynes, R. B.; Richardson, W. S.
      Evidence Based Medicine: What it is and what it isn’t. BMJ, v. 312, p. 71–72, 1996. Artigo clássico que define a medicina baseada em evidências.
      Disponível em: https://www.bmj.com/content/312/7023/71
    4. Brasil. Ministério da Saúde.
      Diretrizes Metodológicas: Elaboração de Revisão Sistemática e Meta-Análise de Ensaios Clínicos Randomizados. Brasília: Ministério da Saúde, 2021. Documento oficial com orientações para a produção de evidência científica no SUS.
      Acesso direto em PDF
    5. Cochrane Handbook for Systematic Reviews of Interventions.
      Version 6.3 (updated February 2022). Manual internacionalmente reconhecido para elaboração de revisões sistemáticas com base em ensaios clínicos.
      Disponível em: https://training.cochrane.org/handbook/current
    6. Centre for Evidence-Based Medicine (CEBM). University of Oxford.
      Levels of Evidence. Quadro oficial com a hierarquia dos níveis de evidência.
      Acesso em: https://www.cebm.ox.ac.uk/resources/levels-of-evidence
  • Odontologia Baseada em Evidências: 8 reflexões para Atualizar sua Prática

    Quantos dos tratamentos que você aplica na clínica realmente possuem comprovação científica? Você confiaria em um procedimento sem evidências sólidas? A Odontologia Baseada em Evidências (OBE) surgiu para eliminar essa dúvida e garantir tratamentos eficazes e seguros. Continue lendo e descubra como essa abordagem pode revolucionar sua prática clínica!


    A Odontologia Baseada em Evidências (OBE)

    A Odontologia Baseada em Evidências (OBE) tem revolucionado a prática odontológica ao garantir que tratamentos sejam fundamentados nas melhores evidências científicas disponíveis. Você já se perguntou quantos procedimentos são realizados diariamente sem comprovação robusta de eficácia? Descubra como a OBE pode transformar sua atuação e otimizar os resultados clínicos.

    🔗 Leia mais em: saudebaseadaemevidencias.org/odontologia-baseada-em-evidencias

    Odontologia Baseada em Evidências: Como Funciona e Por Que Adotá-la?

    A OBE é um modelo de tomada de decisão clínica que combina:

    • As melhores evidências científicas disponíveis, obtidas a partir de revisões sistemáticas, ensaios clínicos randomizados e metanálises. 
    • A experiência clínica do profissional, garantindo que a prática odontológica seja conduzida com base no conhecimento acumulado. 
    • As preferências e necessidades do paciente, tornando o atendimento mais humanizado e personalizado.

    Essa abordagem assegura que os tratamentos odontológicos sejam seguros, eficazes e atualizados, prevenindo a adoção de práticas desatualizadas ou sem comprovação científica.

    A Origem da Odontologia Baseada em Evidências

    A OBE tem suas raízes na evolução dos métodos científicos aplicados à saúde, sendo fortemente influenciada pela Medicina Baseada em Evidências (MBE). Formalizada nos anos 1990 na McMaster University, no Canadá, sob a liderança de Gordon Guyatt, buscava padronizar decisões clínicas com base em evidências científicas de alta qualidade.

    Três Avanços Científicos Que Revolucionaram a Odontologia Baseada em Evidências

    1. Desenvolvimento dos Ensaios Clínicos Randomizados (RCTs) Considerado um dos métodos mais confiáveis para avaliar a eficácia de tratamentos, o RCT foi introduzido em 1948 pelo estatístico inglês Bradford Hill, que conduziu uma pesquisa pioneira sobre o tratamento da tuberculose com estreptomicina.
    2. Surgimento da Meta-Análise A meta-análise é uma técnica estatística introduzida por Gene V. Glass em 1976, que permite a combinação de resultados de múltiplos estudos para gerar conclusões mais robustas sobre a eficácia de tratamentos. Antes de sua introdução, revisões narrativas eram subjetivas e vulneráveis a vieses, dificultando a avaliação real dos tratamentos.
    3. Desenvolvimento dos Estudos Meta-Epidemiológicos Os estudos meta-epidemiológicos avaliam a qualidade metodológica dos estudos incluídos em análises secundárias. Seu principal objetivo é identificar, quantificar e minimizar vieses, garantindo que as conclusões obtidas sejam mais confiáveis e aplicáveis à prática clínica. Os principais tipos de vieses analisados são: viés de publicação, viés de seleção, viés de mensuração, viés de confusão e viés de atrição.

    A Consolidação da odontologia baseada em evidências

    Com esses avanços, a OBE consolidou-se nos anos 2000, sendo incorporada aos currículos acadêmicos e guias clínicos da odontologia. Instituições como a Cochrane Collaboration passaram a promover Revisões Sistemáticas e a incentivar a adoção de práticas embasadas cientificamente.

    A Importância das Revisões Sistemáticas na Odontologia

    As revisões sistemáticas desempenham um papel essencial na avaliação de tratamentos odontológicos, garantindo que apenas práticas embasadas em ciência sejam aplicadas. Elas possibilitam:

    • Identificação de tratamentos ineficazes ou prejudiciais – Muitos procedimentos amplamente utilizados foram revisados e, em alguns casos, descontinuados por não apresentarem benefícios clínicos. 
    • Otimização dos recursos na saúde bucal – A OBE auxilia na alocação de investimentos em tratamentos que realmente fazem a diferença na vida das pessoas. 
    • Melhoria na segurança dos pacientes – Tratamentos embasados em evidências científicas reduzem riscos e garantem melhores resultados clínicos.

    A Colaboração Cochrane e a odontologia baseada em evidências

    A Cochrane Collaboration é uma organização internacional que produz revisões sistemáticas de alta qualidade para orientar a prática clínica. No Brasil, o Centro Cochrane do Brasil, fundado em 1996 e vinculado à UNIFESP, é um dos principais polos de pesquisa em saúde baseada em evidências.

    • Produção de revisões sistemáticas de alto rigor científico
    • Atualização constante das diretrizes clínicas 
    • Apoio na formulação de políticas públicas e diretrizes odontológicas

    Por Que Alguns Profissionais Demonstram Resistência às Revisões Sistemáticas?

    Apesar da sua importância, as Revisões Sistemáticas (RS) ainda enfrentam resistência de alguns profissionais. Entre os motivos dessa resistência, destacam-se:

    • Contrariam práticas tradicionais: Muitos tratamentos utilizados por anos foram descontinuados após a comprovação de sua ineficácia. 
    • Reduzem a influência da experiência individual: A OBE valoriza mais a ciência do que a opinião de especialistas isolados.
    • Demandam mudanças na prática clínica: Alguns profissionais sentem dificuldades em adaptar-se a novas diretrizes. 
    • Utilizam estatísticas complexas: Nem todos os profissionais estão familiarizados com metanálises e métodos de avaliação de evidências.

    O Impacto das Revisões Sistemáticas na Prática Clínica

    Com esses avanços, a OBE consolidou-se nos anos 2000, sendo incorporada aos currículos acadêmicos e guias clínicos da odontologia. Instituições como a Cochrane Collaboration passaram a promover Revisões Sistemáticas e a incentivar a adoção de práticas embasadas cientificamente.

    Com o crescimento da OBE, tornou-se evidente que muitas intervenções de saúde rotineiramente utilizadas não possuem evidências robustas de benefício ou podem causar malefícios. Isso reforça a necessidade de uma odontologia mais crítica e científica.

    📌 Descobertas das Revisões Sistemáticas: 

    • Tratamentos ineficazes foram identificados e descontinuados. 
    • Recursos financeiros e humanos foram otimizados. 
    • Diretrizes clínicas foram reformuladas, tornando os tratamentos mais eficazes e seguros.
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    Dentista se paramentando e se preparando para atender- Odontologia baseada me evidências

    Conclusão: A OBE é o Presente e Futuro da Odontologia

    A Odontologia Baseada em Evidências já é uma realidade e continua evoluindo com o avanço das pesquisas. Profissionais que adotam essa abordagem garantem um atendimento de qualidade, baseado nas melhores práticas científicas disponíveis.

    Se você quer se manter atualizado e oferecer os melhores tratamentos aos seus pacientes, a OBE deve ser parte essencial da sua prática clínica.


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    Referências bibliográficas


    1. Atallah, A. N., & Castro, A. A. (1998). A medicina baseada em evidências: nova abordagem para a prática clínica. Revista da Associação Médica Brasileira, 44(2), 93-96.
    2. Cochrane Collaboration. (n.d.). Cochrane Reviews. Retrieved from https://www.cochranelibrary.com/
    3. Ferreira, C. A., Loureiro, C. A. S., Saconato, H., & Atallah, A. N. (2011). Assessing the risk of bias in randomized controlled trials in the field of dentistry indexed in the Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) database. São Paulo Medical Journal, 129(2), 85–93. 
    4. Glass, G. V. (1976). Primary, secondary, and meta-analysis of research. Educational Researcher, 5(10), 3–8.
    5. ZINA, Lívia Guimarães    MOIMAZ, Suzely Adas Saliba. Odontologia baseada em evidênciaetapas e métodos de uma revisão sistemática.[]. , 48, 3, pp. 188-199. ISSN 1516-0939.
    6. Sackett, D. L., Rosenberg, W. M. C., Gray, J. A. M., Haynes, R. B., & Richardson, W. S. (1996). Evidence based medicine: what it is and what it isn’t. BMJ, 312(7023), 71-72.
    7. SAVOVIĆ, J et al. Empirical Evidence of Study Design Biases in Randomized Trials: Systematic Review of Meta-Epidemiological Studies. PLOS ONE, v. 11, n. 7, e0159267, 2016. 
    8. Yoshioka, A. (1998). “Use of randomisation in the Medical Research Council’s clinical trial of streptomycin in pulmonary tuberculosis in the 1940s.” BMJ, 317(7167), 1220-1223.
    FAQ – Perguntas Frequentes sobre Odontologia Baseada em Evidências (OBE)
    1. O que é a Odontologia Baseada em Evidências (OBE)?
    A OBE é uma abordagem científica que integra as melhores evidências disponíveis, a experiência clínica do profissional e as necessidades e preferências do paciente para tomar decisões odontológicas mais seguras e eficazes.
    2. Por que a OBE é importante para a prática clínica?
    Ela ajuda a eliminar tratamentos ineficazes, reduz riscos ao paciente, otimiza recursos na saúde bucal e melhora a previsibilidade dos procedimentos, garantindo que apenas abordagens comprovadamente eficazes sejam aplicadas.
    3. Como a OBE impacta os tratamentos odontológicos tradicionais?
    A OBE avalia criticamente práticas comuns e pode indicar que alguns tratamentos amplamente utilizados não possuem comprovação científica suficiente ou podem ser prejudiciais, incentivando a adoção de novas diretrizes baseadas em evidências.
    4. Quais são os pilares da Odontologia Baseada em Evidências?
    Evidências científicas de qualidade, obtidas por meio de revisões sistemáticas, ensaios clínicos randomizados e metanálises.
    Experiência clínica do profissional, aplicada na personalização do tratamento.
    Preferências e valores do paciente, garantindo um atendimento mais humanizado.
    5. O que são Ensaios Clínicos Randomizados (RCTs) e por que são importantes?
    Os RCTs (Randomized Controlled Trials) são estudos que comparam diferentes tratamentos de maneira rigorosa, garantindo que os resultados sejam confiáveis. São considerados o padrão-ouro para testar a eficácia de procedimentos odontológicos.
    6. Qual o papel da meta-análise na OBE?
    A meta-análise é uma técnica estatística que combina resultados de diversos estudos para gerar uma conclusão mais robusta sobre a eficácia de um tratamento. Isso aumenta a confiabilidade das recomendações clínicas.
    7. O que são estudos meta-epidemiológicos e como eles minimizam viés?
    Os estudos meta-epidemiológicos avaliam a qualidade dos estudos primários, identificando e corrigindo fatores que possam comprometer os resultados, como viés de seleção, viés de publicação e viés de mensuração.
    8. Qual a importância da Cochrane Collaboration para a OBE?
    A Cochrane Collaboration é uma organização global que produz revisões sistemáticas de alta qualidade para orientar a prática clínica. No Brasil, o Centro Cochrane do Brasil, vinculado à UNIFESP, é um dos principais polos de pesquisa nessa área.
    9. Por que alguns profissionais resistem à adoção da OBE?
    Alguns tratamentos tradicionais foram descontinuados por falta de comprovação científica.
    Exige atualização constante e mudanças na prática clínica.
    Usa estatísticas e metodologias que nem todos os profissionais dominam.
    Pode reduzir o peso da experiência individual em relação à tomada de decisões clínicas.
    10. Como a OBE influencia a formulação de políticas públicas em saúde bucal?
    As revisões sistemáticas da Cochrane e outras organizações ajudam a embasar políticas de saúde, garantindo que investimentos sejam direcionados para tratamentos eficazes, reduzindo desperdícios e melhorando a qualidade do atendimento odontológico.
    11. Como posso aplicar a OBE na minha rotina clínica?
    Buscando atualizações científicas regulares em bases de dados confiáveis, como Cochrane Library e PubMed.
    Seguindo diretrizes clínicas baseadas em evidências atualizadas.
    Participando de cursos e treinamentos sobre Medicina e Odontologia Baseada em Evidências.
    Utilizando protocolos clínicos embasados em ensaios clínicos e revisões sistemáticas.
    12. Quais são as principais fontes para encontrar evidências científicas confiáveis?
    Cochrane Library (www.cochranelibrary.com)
    PubMed (www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed)
    Scielo (www.scielo.org)
    National Institute for Health and Care Excellence (NICE)
    13. Como a OBE pode beneficiar diretamente o paciente?
    Ao adotar tratamentos embasados em evidências, o paciente recebe procedimentos mais seguros, eficazes e previsíveis, reduzindo o risco de complicações e aumentando as chances de sucesso do tratamento odontológico.
    14. Como convencer um paciente da importância de tratamentos baseados em evidências?
    Explique de forma clara e objetiva que as decisões são baseadas nas melhores pesquisas científicas disponíveis, garantindo um tratamento com maior probabilidade de sucesso e menos riscos.
    15. A OBE é apenas uma tendência ou veio para ficar?
    A Odontologia Baseada em Evidências é o futuro da odontologia moderna. Sua aplicação continua crescendo e sendo incorporada aos currículos acadêmicos, guias clínicos e políticas públicas, tornando-se essencial para a prática clínica atual e futura.
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